Ao contrário do que pode parecer pra quem me conhece pessoalmente, eu nunca gostei de receber muita atenção de gente que eu não conheço tão bem e batalho cotidianamente com o medo e a vergonha de ser visto por estranhos. O que eu quero dizer é que a rede mundial de computadores sempre me deixou um pouco ansioso e por isso a minha presença nela durante a adolescência era parecida com a de um fantasma. Eu frequentava fóruns, sites e blog. Eu lia traduções de quadrinhos estrangeiros, frequentava fóruns de video-games e filosofia, lia webcomics e todas as discussões que surgiam nesses espaços. Mas não escrevia nada. Cheguei a criar um endereço em algum momento, mas nunca escrevi nada lá.
Quando as grande empresas da internet chegaram, colonizando e gentrificando os espaços digitais eu me encolhi mais ainda. Isso só começou a mudar um pouco quando fui pra faculdade e eventualmente comecei a escrever alguma coisa ou outra no facebook com uma pegada mais séria. Papo de política, ideologia e análises de conjuntura; não durou muito. Também tentei ter uma página pra postar os meus desenhos que teve um sucesso moderado mas a coisa toda de ter uma rotina de postagens e não sei o que e não sei que lá começou a entrar na cabeça e acabei parando. Entrei no instagram em 2017 e desde então uma vez por ano eu tento ser mais ativo por lá e acabo largando de mão depois de um tempo por um motivo ou outro. O twitter literalmente me adoeceu no tempo em que fiquei por lá e de repente eu me peguei sentindo falta daquela internet do começo dos anos 2000, que parecia mais lenta, mais calma, mais distante, mais como um grande mar a se navegar e menos com uma sessão esquisita de classificados.
Foi por volta de 2020 que a coisa aconteceu. Eu precisava de um espaço pra mim e eu precisava de que ele fosse um pouquinho escondido e de repente o piovepato aconteceu. Eu montei o layout mais simples que consegui e comecei a postar algumas coisas por lá com a certeza de que só seriam lidas por mim alguns anos no futuro e não foi o que aconteceu. De algum jeito, algumas pessoas foram chegando e na primeira vez que eu recebi um comentário de alguém que eu não conhecia eu fiquei genuinamente feliz e um tipo muito específico de relação foi surgindo a partir disso. Comecei a visitar outros blogs e a sentir falta de ler os textos das pessoas. Comecei a me sentir cada vez mais a vontade de escrever e experimentar com a escrita. E comecei a pensar bastante sobre a existência na internet.
Eu gosto daqui, gosto de ler outros blogs, gosto de ver as fotos, os desenhos, as poesias, os vídeos e as maneiras de organizar das outras pessoas. Gosto de como tenho aos poucos começado a me sentir parte de alguma coisa e gosto de ter um lugar da internet com um pouco de mim que alguém pode encontrar sem querer, mas só se tiver determinação o suficiente pra procurar ou pra encontrar sem querer.
Este post foi escrito carinhosamente pelo Jacson para o Blogueiros Raiz, um espaço que surgiu para unir todos nós, que ainda estamos aqui. |